domingo, 22 de junho de 2014

Crônica de uma despedida



Cheguei do trabalho e olhei ele no sofá, como era de costume, o que achei estranho era que ele estava nervoso, balançava a perna e coçava a cabeça, quando fui beija-lo, ele virou o rosto, desligou a tv e disse: -Precisamos conversar.
Botei minha bolsa no sofá e perguntei se não poderia esperar eu tomar banho, ele respondeu que não, então eu sentei no sofá e o observei, percebi que era sério, não pelo nervosismo dele, mas por ele ter desligado a tv, não fazia o tipo dele desligar a tv só para falar comigo, ela ficava ligada direto, eu que tinha que gritar da cozinha quando quisesse que ele me escutasse.
Encarei-o e disse "Diga então", ele respirou fundo e começou com a história do "Eu não sei por onde começar.. é difícil de dizer...", eu virei os olhos para cima e disse "Deixa eu adivinhar, você quer terminar comigo não é?" fui bem direta e rápida, nunca fui o tipo de mulher que gosta de rodeios, ele se espantou com a minha franqueza e levantou uma das sobrancelhas e disse "Não, quer dizer, não é isso, não é com você, é comigo" Ah, meu santo cristo, ele ia começar com as frases clichês, aonde teria lido isso? Em algumas das dicas da capricho? E qual seria o título: Como terminar com sua esposa sem magoá-la?
Levantei do sofá e  ele me olhou assustado, talvez tivesse pensando que eu iria bater nele.
A única coisa que fiz foi perguntar a ele quando iria embora, ele me disse que hoje, agora.. então eu sentei, vi ele trazer a mala para o sofá, já estava quase tudo dentro, percebi que faltava só apenas metade das roupas, ele deve ter parado de arrumar quando viu o barulho na varanda e percebeu que eu estava chegando, vi ele pegar todas as blusas sociais, que eu tinha lavado na semana passada e passado, e posto em fileira separadas por cores no guarda-roupa, a maioria era eu que tinha dado, eu adorava presentear ele com blusas e ternos, ele precisava muito para a profissão que exercia, depois pegou o perfume na parte superior no guarda-roupa, pegou o resto das sungas, e depois seguiu do quarto para o banheiro, ao passar  pela sala,onde eu estava, ele abaixou a cabeça, do banheiro trouxe sua toalha, seu barbeador, seu chinelo que sempre deixava  em pé secando após o banho, sua esponja, passou na aeréa e pegou seus sapatos, pronto, essa mala estava encerrada, fechou e a colocou no chão, perto do meu pé, e agora havia aberto outra, onde pôs seu video-game, seu guarda-chuva, suas meias, escova de cabelo e todos outros acessórios contidos do seu lado do guarda-roupa do casal.
Fechou a segunda mala e a mochila, passou por mim na sala e ainda ameaçou abrir a boca para falar alguma palavra eu virei o rosto,  e  ele saiu, bateu a porta.
Apenas peguei a sacola que tinha posto em cima do sofá e botei na mesinha de centro, para a lasanha que eu tinha trago para o almoço de nós dois não estragar o tecido.
Me encolhi no sofá, e ouvi um barulho de carro e uma voz feminina, talvez fosse a dona do batom que eu encontrei na blusa dele 2 meses atrás, mas não falei para não criar confusão, e ela talvez fosse a mesma que ele admitiu que me traiu no começo do namoro e eu o perdoei.
No momento que ele bateu a porta eu não senti nada, nem mesmo a vontade chorar, eu fiquei só observando a casa, a lasanha e as palavras que ele tentou dizer, que despedida mais idiota para um casal que há 4 anos atrás diziam se amar e juravam o até que a morte os separe  perante ao padre e ao juiz.
Mas confesso achei muito corajoso dele, por um fim nessa situação, ter coragem de acabar com a vida dupla e fazer uma escolha, e mais coragem para bater a porta sem olhar para trás, espero que pegue toda essa coragem e junte com  a dignidade para nunca mais voltar pra mim.


"Não, eu não chorei, só não digo que sorri, porque isso não seria verdade, mas com o tempo, já aprendi a vida me traz e me leva as pessoas, já  fiz um trato com ela, ela me leva as pessoas antes que fiquem importantes demais, e eu não choro nas despedidas."


                                                                                      Tainá Moura

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