sexta-feira, 9 de maio de 2014

O Vidro Embaçado

                       


Lembro como fazia frio naquela manhã, e como a chuva escorria pelo vidro da janela, era um dia como outro eu acordava do seu lado.
Não queríamos sair da cama, mas o dever nos obrigavam, tomamos cafe, e depois você me disse que tinha que ir, eu fiquei na ponta do pé, dei um beijo e um abraço, te apertei tão forte contra meu peito, parecia que eu imaginava.
Você saiu, pelo vidro embaçado da janela eu fiquei a olhar, você se cobrindo com a pasta para evitar inutilmente que pingos de chuva caísse sobre você, entrou no seu carro, eu vi você dar partida e virei de costa, quando olhei pro criado mudo notei a sua aliança havia sido esquecida, você nunca saiu sem ela, ainda corri na chuva na esperança de você ainda está na rua, mas já tinha partido.
Enquanto tomava meu banho para se dirigir ao meu trabalho, fiquei pensando na briga que tivemos na noite passada, porque você não queria que eu aceitasse a proposta de viagem, eu ficaria 6 meses fora, e você não queria se afastar de mim, eu dizia como você era egoísta, queria que eu desperdiçasse a oportunidade dos meus sonhos somente para ficar perto de você, você me pediu que eu largasse o meu emprego, e eu disse de que iríamos viver? se o seu salário mal dava para pagar as contas,depois de ouvir isso você se calou e se deitou, não insistiu mais no assunto, e eu também não.
Depois que sai do banho, eu me perguntava se teria sido rude demais com você, a resposta veio assim que abrir nosso guarda-roupa, vi um envelope que não era comum está lá, curiosa, eu abri, era uma promoção que você havia ganho, tinha sido promovido, ao cargo que sempre sonhou, e o salário que receberia seria maior que o seu, o meu , e de mais 4 advogados juntos, poderíamos viver tranquilamente.
Nessa hora eu entendi porque todo o seu espanto quando eu disse que aceitaria a viagem somente para comprar a casa dos nossos sonhos, não era por egoísmo, porque seria desnecessário esse meu sacrifício, eu precisava me desculpar, faria o jantar naquela noite, e tudo acabaria bem.
Peguei o meu carro e me dirigi ao meu trabalho, logo cheguei sentei em minha mesa, e a secretária anunciou uma ligação, pedi para não transferir, eu estava realmente ocupada, e ainda tinha que planejar o jantar especial, ela insistiu disse que era urgente.
Eu sem opção atendi, o que seria de tão urgente? Logo entendi, minhas mãos gelaram, minha boca secou e meu coração deu altos pulos, me negava acreditar o que aquela voz estranha me falava, não podia ser.
Rapidamente larguei aquele escritório e fui em direção ao endereço dado, lá veio a confirmação, eu pedi para vê-lo e o médico autorizou. Você estava deitado, pálido, mas ainda estava morno, dormindo, como todos esses anos de casado eu costumava vê-lo, parecia que ia acordar a qualquer momento, e me olhar sorrindo e desejar um bom dia, não poderia ou não queria acreditar que você estava morto.
Morrer? Como assim? Você teria que voltar pra casa, para eu me desculpar, para eu fazer o jantar, e você contar sobre a promoção, iríamos brindar felizes, depois de tantos anos nos livraríamos daquele apartamento para ter nossa casa, onde teríamos os filhos que planejamos e os cachorros iam correr livremente, você não poderia partir assim, mas você partiu.
Hoje está uma chuva forte, os vidros da janela também estão embaçados, aposto que os vidros do seu carro também estavam quando sofreu aquele acidente, que não só tirou sua vida, mas a minha também.



                                                                                Tainá Moura



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