Hoje em dia tudo é questão de status.
Simplesmente transar com um cara legal não basta – você tem que tirar
foto do menininho no sono pós-coito pra compartilhar naquele grupo
badaladíssimo do WhatsApp. Simplesmente ter
um namorado não basta – você tem que atualizar seu status nas redes
sociais, fazer declarações de amor diárias no mural dele e postar no
Instagram fotos e mais fotos daquele fondue romântico com mil hashtags
pra lá de apaixonadas. Ir às ruas para protestar contra o aumento da
passagem de ônibus não basta – você tem que tirar foto da sua cara
apolítica com a multidão de fundo. Simplesmente ver o pôr do sol no
Arpoador com aquele cara legal não basta – você tem que dar check in e taggear o bonitinho, apreciar uma piscina em um dia ensolarado não tem graça sem postar fotos dos pés com a legenda "Que vida ruim". Senão, quem vai sentir inveja da sua autenticidade e da sua felicidade, não é mesmo?
E que atire a primeira pedra quem não
tem um quezinho de exibicionista. Eu mesma confesso: gosto de exibir
minhas conquistas. Minha consciência social que me permite perceber que
não são apenas R$0,20, meu vocabulário extenso adquirido durante quase
20 anos de leitura, meu senso de humor crítico aguçado nas noites que
quase passei em claro estudando Ciências Sociais, minha liberdade
conseguida graças a um pouquinho de trabalho e a um montão de
impulsividade, minhas tatuagens feitas à custa de muita agulha e sangue
derramado, minha felicidade em completar a alcunha de ser espectadora de
uma dúzia de shows do Zeca Baleiro. E – quem sabe? – se tivesse um
namoradinho pra chamar de meu, talvez estivesse também postando fotos
apaixonadas do nosso último feriado em Buenos Aires. Ou da nossa simples
sessão-cinema aos domingos, com direito a pipoca, cobertor e algum sexo
debaixo dele. Sem pudor, sem bom-senso, sem medo de parecer ridícula.
Mas, sem sombra de dúvidas, com a plena consciência de que pessoas são
pessoas, e jamais devem ser rebaixadas ao posto de conquistas.
Rezam as más línguas que ele, como se
comandasse um inquérito policial, anota num caderninho nome e sobrenome
de todas as mulheres com quem transou nos últimos anos. Eu prefiro
anotar experiências na memória. Andam falando por aí que ela tira
sequências infindáveis de fotos com os mais diversos ~amigos~ na balada
pra postar no Facebook. Eu prefiro dançar até o chão quando o DJ toca
Freedom. Porque sinceramente, não sei qual foi o bonde que eu perdi, mas
não vivo nessa era de colecionar pessoas numa estante, não. Frasco de
perfume e boneca de porcelana é que foram feitos pra enfeitar
prateleira. Quer a foto registre, quer não, gente nasceu pra enfeitar a
vida. Para ir e vir, se assim quiser. Para fazer sorrir na paz da
serenidade. Para chorar em silêncio quando a causa for perdida. Para
abraçar e beijar enquanto as câmeras dormem. Para dar a mão em sinal de
solidariedade. Para viver, enfim, sem que ninguém os sujeite a virar
mais um bando de atores canastrões nessa sociedade do espetáculo.
Sim, as cortinas estão abertas – afinal,
essa foi uma condição que você aceitou quando comprou o pacote pra uma
temporada no século XXI, planeta Terra. O público? Ele está sedento por
lágrimas, suor e sangue – mas não é porque a multidão grita “pula, pula,
pula” que você vai cometer suicídio quando sai na varanda do 21º andar
só para ter uma vista panorâmica da paisagem urbana. Por isso, viva.
Contrarie o bom senso. Saia das estatísticas. Quebre expectativas.
Apesar do julgamento alheio, apesar dos castigos, apesar dos perigos. Da
força mais bruta, da noite que assusta, estamos na luta. Pra
sobreviver. O mundo não é a porra do seu Toddynho gelado. E a revolução
não para pra você postar no Instagram uma foto das suas unhas novas ou
do seu biquinho no espelho.
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